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Ela era um poço de conhecimentos. Via o mundo exatamente como os livros mostravam, contava histórias já escritas há milhares de anos como se fosse sua. Palavras rebuscadas vindas de um conhecimento mecânico, adquirido pela leitura obrigatória do vestibular. “Tem que ler, tem que ser. Por que sem um diploma, nada és...”, eles diziam.

    Todo dia a mesma coisa. Acordava, seguia para a escola, enfiava a cara nos livros, engolia palavras e carregava o questionamento consigo. Era considerada a CDF da sala. Dos professores colecionava adjetivos como “o grande futuro promissor” e “ponto de luz no meio de baderneiros”.

    Observava as crianças jogando bola, seus antigos amigos crescendo e o mundo passando. Sabia tudo que consideravam necessário. Matemática, literatura, história e química. Chegava em casa de cabeça baixa e se entregava à prática dos mesmos.

    - Bárbara! Sai dessa, vem viver um pouco! - dizia sua amiga Joyce, que era a típica aluna considerada mediana e sem grande destaque. Mas, para Bárbara, Joyce era uma das pessoas mais inteligentes que já havia conhecido. Conversava sobre a vida como ninguém. Sabia como adicionar a simplicidade e o questionamento aos causos e acasos do mundo, mesmo numa simples conversa sobre o aumento do preço dos lanches na cantina.

    Nesse dia, ao voltar pra casa decidiu colocar os olhos a observar seu caminho de volta. Nos casais sentados à mesa de bar encontrou trechos de algum poema de Machado de Assis, nas crianças se amontoando em um pequeno espaço entre o trampolim e o escorregador pensou nas leis da física.

    Bárbara entendia de química, literatura, história e matemática. Só não entendia da vida. 

Teus olhos são meus livros
Por Giovanna Dantas
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