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O som da receptividade
Por Thatielle Freitas

Dona de olhos negros, como uma noite sem estrelas, pele morena e trança lateral que comprime seus medianos cabelos, Greyce, além de estudante do E.E. Senador Adolfo Gordo, é uma garota de 17 anos de idade, residente da cidade de São Paulo e surda.

    Depois de ter passado por outros dois colégios – um com uma identidade surda formada e fortalecida e outra inclusiva como o S.A.G., em que há ouvintes e não ouvintes –  Greyce chega até a escola atual por meio do micro-ônibus denominado Ligado, que é um sistema especial de transporte seguro para crianças e jovens com deficiência. Este a leva e busca no colégio todos os dias. Bem como seus colegas não ouvintes.  Além disso, Greyce confessa que mesmo gostando da instituição inclusiva de ensino que estuda, ainda prefere a escola voltada totalmente para os surdos.

    A menina amorenada é sempre rodeada por companhia. Se não amigos seus, os intérpretes, sendo chamados dois destes Fernanda e Helio, que a acompanham nas aulas e em outras atividades. “Gostamos muito dos intérpretes, porque sem eles não conseguimos aprender” diz.

    Helio lembra-se sempre do Dia Nacional do Surdo e estabelece uma palestra motivacional a todos os alunos, assim como Greyce, pelo segundo ano consecutivo, com a contribuição do facilitador cego-surdo Carlos Junior. 

    Jenifer, 17, Karoline, 16, e Smile, 17, são alunos ouvintes, que referem à experiência vivenciada como positiva, e acentuam o prazer em terem uma colega com uma característica diferente e de conhecer a língua de sinais. Entretanto, os ouvintes relatam dominar precariamente esta língua e gostariam que ela fosse mais fácil. Tais fatos não são percebidos pela aluna surda, que vê como adequada sua relação com ouvintes. Contudo, o respeito por ambas as dessemelhanças ainda é predominante.

    Ao final de nossa conversa, pedi para que Greyce me ensinasse como se representava o meu nome em libras. “T-H-A-T-I-E-L-L-E” soletrei. Fernanda interpretou pra mim. Além do pedido atendido, ganhei um sinal com a inicial do meu nome – o nome gestual é uma forma  específica de identificar uma pessoa, ou seja, é equivalente a um nome próprio.  E um sorriso de boa receptividade. Foi por meio destes, que eu descobri que o sorriso e a gentileza são espelhos da alma. E, ah! Que alma bonita.

 

    As nossas passagens idas e vindas – mesmo com alguns aspectos diferenciados – vão lapidando a pedra, que é a nossa alma, fazendo-a ter uma forma e definição. Eu, como uma pessoa qualquer, calculo alguém pela forma da personalidade e caráter, e não por aparências superficiais. E você?
 

*Toda a entrevista foi bilíngue e mediada por Fernanda, uma das intérpretes e facilitadoras de Greyce.

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